Pavão Misterioso
Trabalho todo em branco, para a exposição "A supremacia obscurantista do Branco" - 2020.
8/8/20254 min read


A curadora, Ciça Mora, lançou um desafio para os artistas, fazerem uma obra inteiramente branca, tudo, tecido e linha, acabamento, tudo em branco, algum detalhezinho poderia ser em prata ou dourado, mas coisa pequena. Pensei bah, e agora, minha mente é colorida, tudo o que imagino tem cor.
Fui pesquisar, primeira coisa que pensei, anjos, mas claro que alguém iria fazer, pombas da paz ou do Espírito Santo, também seria muito comum, pensei vou ver os animais que são brancos, tem muitos animais albinos, na verdade acho que em todas as espécies isso pode ocorrer, daí lembrei do pavão branco, fui pesquisar sobre pavões, fiquei encantada com toda a história de fé e fantasia que está por traz do mito do pavão, não o branco mas em torno do animal pavão.
O pavão branco simboliza o senso da bondade, generosidade e capacidade de abarcar a vida. De acordo com o site My Power Animals, a Ordem do Pavão Branco é uma antiga ordem de xamãs que descendem do planeta Vênus. Esses pássaros são vistos como protetores, já que eles guardam o templo da ordem em Vênus e gritam para alertar quando alguém está se aproximando.
Os pavões brancos eram usados para representar Jesus Cristo. Isso acontece porque o pavão é considerado um símbolo da morte, ressurreição e vida eterna, conceitos diretamente associados a Cristo. O pássaro também remete a atributos de Cristo, como realeza, glória e incorruptibilidade. Sua cor branca representa seu espírito santo. Representa o despertar, a espiritualidade e a luz, juntamente com a pureza de intenções de uma pessoa e sua fé.
Para os cristãos, o padrão de suas caudas adquiriu um significado de omnisciência, o Deus que tudo vê. O desenho da sua cauda representa as estrelas e o universo. Sua coroa semelhante a uma estrela de seis pontas simboliza sua magnitude e poder. É símbolo da eternidade, da imortalidade e da totalidade.
O pavão é uma linda ave originária da Ásia que encanta os olhos! No topo de sua cauda, que chega a ter dois metros de comprimento, em torno de 200 penas e se abre como um leque, em cada uma das fileiras de penas há um ocelo (pequeno olho) redondo, colorido e com uma aparência cintilante que confere às plumas uma beleza exótica. Sua cauda é uma arte viva que o ser humano cobiça, arranca, comercializa e utiliza para ostentar como objeto de enfeite, fantasia e decoração.
O pavão pertence aos gêneros Pavo e Afropavo da mesma família dos faisões. Estas aves se alimentam de insetos, sementes, frutas e outros vegetais. O pavão roda na época de acasalamento para chamar a atenção da fêmea. A roda também tem outra finalidade e é utilizada pelo pavão como defesa para afugentar os predadores, com o seguinte mecanismo: ele abre a cauda em leque para aumentar seu tamanho e mostrar-se maior, intimidando o predador, mas logo que fica livre da ameaça fecha a cauda e sai de cena se afastando do perigo.
A lenda grega do Pavão
Zeus era esposo de Hera, mas um dia se encontrou com a ninfa Lo. Hera ia se aproximando do local onde Zeus e Lo estavam quando ele percebeu que iria ser pego em flagrante transformou a ninfa em uma novilha (vaca jovem). Suspeitando que estava sendo enganada, Hera pediu à Zeus que lhe desse a novilha de presente e, para não gerar desconfiança ele atendeu o seu pedido. Hera incumbiu seu fiel servo Argos, um gigante com cem olhos, para tomar conta e vigiar a novilha e mesmo dormindo ele a vigiava com metade de seus olhos abertos. Zeus para salvar a ninfa Lo, pediu à Hermes que a libertasse. Tocando uma melodia, Hermes fez com que Argos adormecesse e fechasse todos os seus olhos. Hermes acabou tirando a vida de Argos e libertou a jovem. Hera soube da morte de Argos e ficou muito triste e para eternizá-lo ela pegou os olhos dele e colocou-os na cauda de seu pavão sagrado.
Pavão Mysteriozo é uma canção composta pelo cantor e compositor, Ednardo, que teve grande projeção após sua utilização como tema da telenovela "Saramandaia" (1976), havendo hoje mais de 20 regravações. Inspirada no folheto de cordel intitulado "O Romance do Pavão Misterioso" de José Camelo de Melo Rezende... Nosso maior escritor de cordel do Brasil. Vale a pena pesquisar a obra dele.
Pavão Misterioso
Pavão misterioso, pássaro formoso
Tudo é mistério nesse teu voar
Mas se eu corresse assim
Tantos céus assim
Muita história eu tinha pra contar
Pavão misterioso nessa cauda aberta em leque
Me guarda moleque de eterno brincar
Me poupa do vexame de morrer tão moço
Muita coisa ainda quero olhar
Pavão misterioso, pássaro formoso
Tudo é mistério nesse teu voar
Ai, se eu corresse assim
Tantos céus assim
Muita história eu tinha pra contar
Pavão misterioso, meu pássaro formoso
No escuro dessa noite me ajuda a cantar
Derrama essas faíscas, despeja esse trovão
Desmancha isso tudo que não é certo não
Pavão misterioso, pássaro formoso
Um conde raivoso não tarda a chegar
Não temas minha donzela
Nossa sorte nessa guerra
Eles são muitos, mas não podem voar
Romance do Pavão Misterioso é o maior clássico do cordel. Folheto mais vendido em todos os tempos, foi escrito por José Camelo de Melo Rezende no final dos anos 1920.
A música Pavão Misterioso cantada por Ney Matogrosso virou um hino na luta por liberdade da ditadura nos anos 80 no Brasil, assim como várias outras, as multidões iam para a rua manifestar e cantar, era uma forma de dizer tudo de uma maneira velada para que não fossem hostilizados e presos.
Eles são muitos, mas não podem voar.
Isso pra mim foi o que realmente definiu a escolha do nome deste trabalho, porque seria uma exposição política, de protesto a vários assuntos que hoje nos afligem como sociedade, como democracia, como humanos.
A Exposição "A Supremacia Obscurantista do Branco", foi um sucesso, eu fiquei maravilhada e muito honrada por ter feito parte. A curadora montou a exposição em sala totalmente preta, com luzes negras iluminando os trabalhos, que pareciam tem cores de rosa a azul, um espetáculo. Foi a única exposição presencial deste ano, por poucos dias, pois logo entramos na quarentena de Covid 19.
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