Pontos de Refúgio

No começo do ano de 2020, quando estava dando uma olhada no Facebook vi uma postagem em um grupo, que dizia mais ou menos, "25 million embroidery stitches for 25 million refugees worldwide", que seria 25 milhões de pontos bordados para 25 milhões de refugiados no planeta. Eu me interessei na hora, afinal de contas é muito triste a história destas pessoas, ninguém abandona tudo e sai correndo, por nada, se chega a este ponto é porque a situação é muito grava, e na maioria das vezes o que encontram pela frente não é muito melhor, mas pelo menos continuam vivendo. Todos já devem ter visto aqueles acampamentos, com pessoas amontoadas, que não tem pra onde ir, nem pra onde voltar. Eu na hora comecei a pesquisar para participar.

O projeto era, bordar de preferência com pontos corridos e com maior número de pontos que pudesse, pois quando reunidos os painéis, seriam contados os pontos, para chegar a marca de 25 milhões, tinham alguns tamanhos específicos para os painéis, eu escolhi o maior com mais ou menos 90x40, e bordei, bem colorido com espirais e flores, no centro um céu com nuvens e um sol.

Queria com o trabalho representar que apesar dos caminhos nem sempre serem, fáceis e retos, que com todas as idas e vindas da vida temos que ter esperança de dias melhores, que sempre, que continuamos a caminhar com fé e plantando sementes do bem pelo caminho, um dia vamos colher as flores, o céu vai se abrir e um sol lindo vai brilhar. Queria levar algo bom, colorido e que desse esperança a tanta gente, que está nesta situação horrível.

Pois a vida deu uma volta e todos entramos numa destas espirais que fazem dar uma volta atrás, a pandemia veio, e eu não pude mandar meu trabalho. Todo o mundo ficou refugiado em casa, acuado pelo vírus, pelo medo da morte. Guardei meu trabalho com carinho, e refleti muito sobre tudo que estava acontecendo ao mundo.

Então em agosto fui convidada a participar do II Festival de Arte Têxtil Fibra de Artista do RS, fiquei muito interessada, fui pesquisar e qual a surpresa, o festival era organizado na Cachoeirinha no Rio Grande do Sul, minha cidade, sim pois só nasci em Porto Alegre, porque não existia uma maternidade em Cachoeirinha, mas vivi a vida toda lá, até vir para São Paulo. Então pensei nas voltas da vida, nas espirais, logo lembrei do trabalho, e me inscrevi. Fiz acabamento no bordado e o nome veio enquanto fazia isso. Pontos de Refúgio. Ele diz tudo o que queria dizer aos 25 milhões, que tornaram-se 7,6 bilhões de pessoas que naquele ano estavam refugiadas em suas casas, sem poder ter contato físico com suas famílias e amigos. Mas com certeza o sol voltaria a brilhar, passaríamos por aquilo. Vamos plantando sementes de amor e esperança através da arte e do bordado.

O projeto original depois da Pandemia teve sua exposição com trabalhos lindíssimos do mundo todo, o meu continua comigo, mas participei virtualmente, foi muito gratificante. No grupo "25 Million Stitches Group" no Facebook vocês podem ver os trabalhos e vídeos das exposições.