Sombrinhas
Minha história com têxteis antes de mudar para Osasco/SP.
Jaque Carvalho
8/1/20254 min read
Bom, gostaria de contar pra vocês a história das sombrinhas na minha e na vida da minha mãe. Pra quem não sabe sombrinha é o guarda chuva colorido que as mulheres usam no verão (ou no inverno) para fugir do sol (ou da chuva).
Foi a alguns anos atrás, num sábado eu estava assistindo um jornal de televisão bem famoso da Rede Globo, que vi uma reportagem de uma moça dona de boutique em São Paulo, ela estava fazendo sacolas chiques com o pano de sombrinhas, muito lindas e coloridas que ela importava do Japão e da China, coisa de primeira.
Foi como nos desenhos animados, que acende uma lâmpada, pensei tá aí a solução.
Minha mãe estava sem poder trabalhar e sem receber nenhum benefício, já algum tempo, meu pai estava desempregado, ela fazia pães para ele vender de bicicleta pelo bairro, muitos problemas, e eu muito preocupada com eles, pois eu ganhava muito pouco e o que ganhava já dividia com ela. Eu trabalhava de servente de escola, na prefeitura de Cachoeirinha, a pouco tempo, concursada, e a minha mãe ia todos os dias pra minha casa, a pé, cerca de meia hora de caminhada, para cuidar dos meus filhos. Como eu trabalhava perto de casa, o bairro era novo meio afastado de tudo, não tinha direito ao vale transporte. Estava difícil, pois nos dias de chuva e muito frio, ela ia de ônibus, o que aumentava o custo, o que sobrava pra nós duas era nada, mas eu tinha o meu marido trabalhando, graças a Deus, pagava as contas de casa, mas coisa tava ficando feia. Todos sabem que no sul chove e venta muito, as sombrinhas e guarda chuvas são praticamente descartáveis, então porque não unir o útil ao agradável? Juntamos os guarda chuvas que estão nas ruas poluindo, e utilizamos para fazer uma renda extra pra minha mãe? Contei pra ela, a ideia e mostrei como se fazia a sacola, ela tinha máquina de costura, e ama costurar. Ela na hora gostou da ideia.
Daí vem a parte engraçada da história, aquilo virou um ritual, eu e as crianças todos finais de tarde acompanhávamos a vó até um pedaço do caminho pra casa, e íamos olhando em todos os lugares pra achar as sombrinhas, era nas lixeiras, nas beiradas de ruas, no brejo onde se via um guarda chuva todos avisavam, meu marido nos finais de semana quando saíamos de carro parava onde se avistava uma carcaça de sombrinha, eu chegava a ir para o centro da cidade em dias de chuva para recolher as sombrinhas. Comecei a mostrar as sacolas na escola onde trabalhava, contava do que eram feitas e toda a história da mãe, então um contava pro outro e em pouco tempo já tínhamos freguêses, as professoras, todos sabem que elas carregam muito peso e volume, adoraram as sacolas, pois eram leves, coloridas e muito resistentes.
Aquilo começou a crescer todas professoras traziam as sombrinhas quebradas e já tínhamos inventado vários modelos de sacolas diferentes, vendíamos bem baratinho em vista ao trabalho que dava para produzir, pois tinha que descascar (retirar toda a armação de metal), lavar, abrir todas as costuras, passar a ferro, costurar a sacola e repassar. Mas minha mãe fazia com gosto, era uma sacola mais linda que a outra. E eu que sou péssima em vendas, estava realizada em conseguir um dinheirinho legal pra ela. Criou-se uma corrente em volta das sacolas, tinha até um professor de artes em outra escola que ficou sabendo e me pediu as armações de metal, amei, pois daí não precisava descartar no lixo.
Então, quero dizer com esta história, que com trabalho e amor, tudo é transformado, não foi só o dinheiro que mudou as nossas vidas naquela situação, foi todo o envolvimento, primeiro da família, depois da comunidade que nos conhecia e por último de uma sociedade inteira. Formou-se uma corrente do bem, bem pra minha mãe, bem pra quem usava as sacolas, bem pra mim e bem ao meio ambiente.
Até hoje ela faz sacolas, carregamos a onde vamos, e se alguém precisa temos pra dar de coração, porque agora, graças a Deus e as sacolinhas não precisamos mais cobrar por elas. Quis dividir com todos esta história neste momento, porque sei que muita gente esta desesperada em casa por falta de dinheiro, com toda a situação que o mundo esta passando, não dá pra todo mundo fazer sacola de guarda chuva, mas com certeza com fé, com calma e com humildade, abrindo o coração e a mente para o bem, ele pode demorar, mas volta, não foi do dia pra noite que começamos a ter um retorno. Mas quando saíamos a caminhar juntos, ríamos muito de cada situação, dos cachorros que corriam atrás da gente, dos gritos dos pequenos quando viam um pano colorido, em qualquer lugar, naqueles momentos esquecíamos dos problemas, quando a mãe fazia um chimarrão e desmanchava as sombrinhas, ficávamos inventando modelos e sonhando, quando vinha um dinheirinho e dava pra comprar as coisas, dava orgulho e muita alegria, a esperança voltou a brilhar.
Então, neste tempos temos que formar uma corrente do bem, inventar coisas novas, que promovam o bem, gastar nossas energia em algo bom, deixar de reclamar e agradecer, está oportunidade de criarmos, de nos unirmos pro bem e mudaremos o mundo, eu acredito. Isso vai passar, e se formos melhores uns para os outros o mundo vai ficar melhor pra todos.
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